Em Cima da Hora
“33 – Destino Dom Pedro II”
Carnaval 2022

JUSTIFICATIVA

“Vamos sublimar em poesia
A razão do dia a dia

Pra ganhar o pão
Acordar de manhã cedo
Caminhar pra estação

Pra chegar lá em D. Pedro
A tempo de bater cartão […]”

O Grêmio Recreativo Escola de Samba Em Cima da Hora, celebrando o seu retorno ao palco principal de todos os sambistas prepara uma volta no tempo em sua própria história, e que de forma contemporânea, acaba se confundindo com a história da cidade do Rio de Janeiro.

No ano de 2021 a azul e branco apresentará uma releitura de um desfile originalmente criado pelos carnavalescos José Leonídio e Regina Celi que ficou marcado como um dos clássicos do carnaval carioca. Orgulhosamente a comunidade de Cavalcanti resgata do seu baú de memórias afetivas o seu Carnaval de 1984, e honrosamente, reapresenta: “33 – Destino Dom Pedro II”.

É mais uma vez tempo de sublimar em poesia a vida suburbana que tem suas relações com os trilhos de trem que cortam a cidade do Rio de Janeiro e parte do interior. É a história de quem acorda de manhã cedo, caminha para a estação, embarca no trem e segue baldeando por aí a tempo de bater cartão. Imaginem o sufoco de quem vem lá de Japeri? Não é mole não! É a sua história, a nossa história, é o fato-história de cada cidadão que movimenta essa cidade indo e vindo por todos os ramais com o peito amargurado, sonhando com vida de bacana e enfrentando o patrão mal-humorado depois de encarar esse trem lotado.

É o “sacolejo” do famoso 33 levando e trazendo nossa gente, que, apesar do caos urbano vive sambando e pagodeando suas alegrias. Tem artista, jogo de ronda, cartomantes, repentistas e tantas mercadorias. O trem é um universo permeado de histórias e figuras humanas diversas, cultura particular e pulsante neste rio de tantos janeiros. Os trilhos são as veias que cortam esse “gigante-maravilha” levando vida ao seu “coração-central” onde desembarcam as emoções dos seus carnavais, e hoje, a comunidade de Cavalcanti reabre as portas destes vagões e te convida:

Embarque conosco!
Boa viagem!

S I N O P S E

Garanta o seu lugar, este trem destina-se à Estação Dom Pedro II. O famoso 33 vai partir mais uma vez, vamos sublimar em poesia…

Os galos e os passarinhos cantam pelo subúrbio e o interior desse Rio que se veste de maravilha de janeiro a janeiro, é mais uma oportunidade de vitória que se inicia. Batem os portões, pé na calçada, um sinal da cruz e assim segue o sagrado rito das manhãs de quem acorda cedo e caminha para estação em busca do pão de cada dia. Não se deve perder tempo, na razão do dia a dia, tempo é dinheiro para quem chega em Dom Pedro a tempo de bater cartão.

São muitos que sacolejam nesse trem almejando a regalia do progresso da nação. Lá vai o humilde verdureiro carregando a dádiva da terra regada com o suor do seu rosto. Tem os moços e as moças engravatadas, e quando acaba o espaço no vagão, tem gente que vai surfando por esses trilhos uma perigosa ilusão. Não dá para esquecer dos maquinistas que tão bem cuidam desse velho trem. Pelas janelas os olhos só enxergam os sonhos, quem sabe um dia ser bacana, mesmo enfrentando o mal da inflação que assola essa nação. São os “Jorges” e as “Marias” nos seus andores suburbanos que vão vencer o dragão. Não é mole não!

Nos ramais da vida a alegria é o combustível de quem está sempre pagodeando pra esquecer a dureza sem poesia do “cinza-concreto” do cotidiano. Só não entende o patrão mal-humorado, principalmente quando alguém chega atrasado, afinal, parece que todo suburbano mora “logo ali” e não precisa viver baldeando de linha em linha. Imagina quem vem lá de Japeri? No caos do transporte público o “trombadinha” quase sempre se dá bem e o paquera apanha quando mexe com alguém. A viagem é longa com o peito amargurado e na companhia de tanta incerteza, mas, Deus dá um ponto de luz, é candeia de terreiro, anjo da guarda, amém e saravá do cidadão.

Este velho trem balança e embala a arte percorrendo os trilhos que levam e trazem tantos rostos e milhares de sorrisos. Tem a menina do laço de fita, se o trem “variô”, ela batuca na marmita para não ver o tempo passar. A malandragem do jogo de ronda, vendedores, cartomantes e repentistas na magia criativa que transforma o famoso 33 em seu palco popular para quem tira onda de artista. O trem é cultura viva!

Toda essa gente segue para vários lugares, mas, é lá em Dom Pedro II que pulsa o “coração-central” desse gigante Brasil. É onde os olhares se cruzam, destinos se entrelaçam em um aperto de mão, um abraço aconchega, moedinhas para um café e a vida vai seguindo. É nessa Estação Central onde também desembarcam os sonhos de carnaval de todo sambista, e o manto azul e branco, que “vem de lá de Cavalcanti pra Sapucaí”, momentos marcados pontualmente pela sentinela ocular do tempo carioca, que, garbosamente observa os meandros que traçam a vida de tantos brasileiros.

A viagem chega ao seu final, e ao desembarcar, não se esqueça de observar atentamente o espaço entre o trem e a plataforma. Levem consigo esperança, reforcem a vontade de realizarem seus sonhos e a certeza de que todo batalhador tem como destino a felicidade. A Em Cima da Hora, sem atraso e sem demora, agradece a preferência e deseja que a vida de cada um seja sublimada em poesia, para fazer dela uma estação de eterna alegria.

Obrigado por viajar no 33!

Referências Bibliográficas

Delgado de Carvalho, Carlos Miguel. (1990). História da cidade do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Secretaria Municipal de Cultura. / GUIMARÃES, Roberta Sampaio; DAVIES, Frank Andrew. “Alegorias e Deslocamentos do ‘Subúrbio Carioca’ nos Estudos das Ciências Sociais (1970- 2010). Sociol. Antropol. vol.8 no.2 Rio de Janeiro May/Aug. 2018 / LUCENA, Felipe. “História da Central do Brasil”. 2015. Diário do Rio. Disponível em  Acessado em 22 de Abril de 2020.

Referências Musicais

“33, Destino Dom Pedro II”
Autores: Guará e Jorginho das Rosas
Citação de trecho na justificativa
Créditos do Enredo / Carnaval 2021

G.R.E.S. EM CIMA DA HORA
“33 – Destino Dom Pedro II”
Carnavalesco:
Marco Antônio Falleiros
Autores do Enredo (1984):
José Leonídio e Regina Celi
Autoria, Pesquisa e
Texto da Releitura (2021):
Diego Araújo

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