Império Serrano
“O que espanta miséria é festa!”
Carnaval 2025

S I N O P S E

Chama, chama Beto. Chama Beto Sem Braço! É folia e neste dia ninguém chora. Não há tristeza que dure e miséria que resista. Confete, serpentina, coração enfeitado e compassado na cadência da marcação, com reco-reco, pandeiro e tamborim. Lugar onde a tristeza não habita.

Afina o surdo, veste a fantasia, a coroa gira. Laudeni Casemiro. Este carnaval é pra você!

O “bom camelô” grita para vender a “maçã do amor”. A cabrocha passa. A algazarra das vizinhas falando da vida alheia. O zunido da gente que vai e vem produzindo um ritmo compassado. O paticumbum na batida da palma da mão do vendedor chamando o freguês. Melodias calangueadas cheias de prugurundum viram composições para o “garoto que fazia carreto lá na feira”. Entre uma venda e outra, bate no ombro e cantarola observando “a paisagem”. Transcreve em letra e música a cena que vê passar diante de seus olhos. A balbúrdia da feira é uma festa!

Entre uma feira e outra, o Poeta do morro versa sobre o próprio destino, acreditando que “o dia do caçador irá chegar”. Não esquece da miséria e muito menos “do vereador que prometeu e não mandou as tábuas pro barraco na favela, que agora só fala com gente nobre”. Se os homens se entendessem seria tão bom, mas o sujeito quer dar uma de esperto e esquece que “quem entra no circo por baixo da lona só pode se dar mal”.

Beto musicava a vida que passava diante dos seus olhos. A alvorada acompanhando a ladainha das lavadeiras. O sujeito todo alinhado que acorda cedo e sai para trabalhar, “agradecendo a Deus” sem medo de “meter a cara no mundo”. Estrondo de buzinas, o trânsito. O 268 que só anda lotado. Quando chega atrasado “come o pão que o diabo amassou”, o patrão não perdoa e nessa hora ele “lembra da senzala, o seu corpo arrepia, sua voz até se cala”. Depois da labuta, na volta para casa, fita a lua pela janela do parador e não perde a esperança de que tudo vai melhorar, afinal amanhã “é festa na favela e a pretinha donzela vai se casar”.

A farra desceu o morro. Hoje o encontro será em Ramos. À sombra da tamarineira uma mesa, “samba, suor e cerveja”. O pedido de licença à malandragem, o senhor das ruas, dono dos caminhos e “dos lugares onde andei”. A roda de partido-alto, os parceiros batucando, “cantarolando e esquecendo os problemas que a vida tem”. Traduzindo em melodia as alegrias e tristezas, chorando os desamores, acalento para o coração que não é de papel.

“Meu bom doutor” o subúrbio é lugar de encontros. Da roda de samba à roda de santo. É lugar das “nuances africanas que mantém a vovó em pé”. É “fumaça que entra” na sala, “quando o seu odor exala quebra os quebrantos” e protege o terreiro em dia de festa da na casa de “mãe baiana”.

Ninguém chegou como você chegou. Ninguém pisou neste terreiro como você pisou.

Avante Imperianos! A “Luz de Deus” iluminou a caneta do compositor. Inebriados em sua melodia que “ilustrou o carnaval”. “Cada gota de suor”, cada “pingo de felicidade”, “até a lua no céu” te reverencia.

Avante Imperianos! “Pouca coisa não vai nos jogar no chão”. “Manera mané, ” “brincadeira tem hora”, “pois não está direito ficar do jeito que está”! “Com a boca no mundo” não vamos parar de “entoar o nosso canto de alegria”! “Axé Brasil! ” É momento de fazer poesia com a “esperança no afã do amanhã”. Espantar toda a miséria, não só aquela que a gente vê no asfalto e na favela e que passa todo dia no jornal, porque miséria também está naquela gente que fala correto e não sabe o que diz.

“Tira a viola do saco e afina o cavaco por favor. ” Hoje é dia de celebração!

Seus fãs ainda entoam suas melodias e continuam chorando num arrastão de saudade. Salve, Beto! “Um ser a ser seguido e ser vivido eternamente no mundo do samba. Pega eles, Beto Sem Braço! ” A sua poesia jamais será detida.

“Eu sou torto, eu sou direito, enfim eu sou o que sou”.

O que espanta miséria é festa, o que espanta miséria é Império Serrano!

Pesquisa
Desenvolvimento e texto:
Renato Esteves
Edição e revisão textual:
Jefferson Brunner

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